20 de
março de 2016
Pessoas que sofrem da Doença de Alzheimer podem não
ter “perdido” a memória e têm apenas dificuldades em recuperá-la, concluem
investigadores conduzidos pelo Nobel da Medicina Susumu Tonegawa, que na
quarta-feira revelaram a possibilidade de um tratamento curar os estragos
provocados pela demência.
O prêmio Nobel da Medicina Susumu Tonegawa (1987)
defende que o estímulo de áreas específicas do cérebro com luz azul permite a
ratos de laboratório recuperarem experiências e memórias que pareciam
esquecidas.
Os resultados fornecem algumas das primeiras
evidências de que a doença de Alzheimer não destrói por completo as memórias
específicas, torna-as “apenas inacessíveis”.
“Como
seres humanos e ratos camundongos tendem a ter princípios comuns em termos de
memória, os nossos resultados sugerem que os pacientes com a doença de
Alzheimer, pelo menos nos estádios iniciais, podem preservar a memória. Ou seja
há hipóteses de cura”, comentou Susumu Tonegawa à agência de notícias France
Presse.
A equipe de Tonegawa usou este tipo de animais
geneticamente modificados para mostrar sintomas semelhantes aos dos seres
humanos que sofrem de Alzheimer, uma doença degenerativa do cérebro que afeta
milhões de adultos em todo o mundo. A Organização Mundial de Saúde estima que
em 2050 a demência afete 131 milhões de pessoas.
Os animais foram colocados em caixas cuja
superfície inferior estava eletrificada, causando uma descarga desagradável,
mas não perigosa, sobre os seus membros sempre que os animais tocassem nessa
estrutura.
Um rato
que não tem Alzheimer desenvolve comportamentos medrosos, evitando a sensação
desagradável.
Camundongos com Alzheimer não reagem da mesma
forma, indicando que não guardam nenhuma memória da experiência dolorosa.
No
entanto, quando os cientistas estimulam áreas específicas do cérebro dos
animais – as chamadas “células de engramas” relacionadas com a memória – usando
uma luz azul, os ratos acabam por se lembrar da sensação desagradável ou pelo
menos desenvolvem comportamentos para evitar os choques elétricos.
O
mesmo resultado foi observado também quando os animais eram colocados num
recipiente diferente durante o estímulo, o que sugere que a memória se manteve.
Ao analisar a
estrutura física do cérebro dos ratos, os investigadores mostraram que os
animais afetados com a doença de Alzheimer tinham menos “espinhas dendríticas”,
através das quais as conexões sinápticas são formadas.
Com
a repetição dos estímulos lumínicos, os animais podem incrementar o número de
espinhas dendríticas atingindo o níveis dos ratos saudáveis.
“A memória de
ratos foi recuperada através de um sinal natural”, disse Tonegawa, referindo-se
ao recipiente que causava o comportamento de medo.
“Isto significa
que os sintomas da doença de Alzheimer em camundongos foram curados, pelo menos
nos estádios iniciais”, disse.
A
investigação, patrocinada pelo Centro RIKEN-MIT para Genética de Circuitos
Neurais, é a primeira a mostrar que o problema não é a memória, mas as
dificuldades na sua recuperação, explica o centro com sede no Japão.
“É uma boa
notícia para os pacientes de Alzheimer”, acrescenta Tonegawa por telefone à
AFP, a partir do escritório em Massachusetts. Tonegawa obteve em 1987 o prémio
Nobel da Medicina.
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Publicado
originalmente em Sapo
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