À mesma
proporção em que aumenta a média de idade da população em todo o planeta, o
mundo parece estar ficando cada vez mais tecnológico. Mas a relação entre idosos e eletrônicos
nem sempre é das mais amistosas. Saber em que medida isso acontece e o que
influencia a aceitação destas ferramentas é o primeiro passo para tentar aproximar os
dois. Foi com esta premissa que a terapeuta ocupacional Taiuani Marquine
Raymundo realizou sua pesquisa de mestrado na Faculdade de Medicina de Ribeirão
Preto (FMRP) da USP.
Em um
estudo com 100 indivíduos com mais de 65 anos escolhidos ao acaso, ela analisou o
nível de aceitação da tecnologia por parte dos entrevistados, e quais fatores
poderiam fazer diferença para que um idoso encarasse os dispositivos modernos
como aliados.
Segundo Taiuani, o universo amostral do estudo,
que incluía idosos da
região de Ribeirão Preto e de Olímpia, foi estruturado a partir de um
questionário socioeconômico, de uma metodologia já consagrada de avaliação das
atividades da vida diária, de uma escala para avaliação da aceitação de
tecnologias e de um questionário sobre os possíveis fatores que interferem no
uso de aparelhos eletrônicos. Tais fatores foram levados em consideração para
avaliar como e com que frequência este público está disposto a se relacionar
com a tecnologia. Aqueles que possuem uma renda financeira maior, por exemplo,
possuem mais facilidade de compreender as funcionalidades, o uso e a linguagem
das novas tecnologias se comparados aos de renda inferior. O estudo mostrou que
a população idosa, em sua maioria, aceita as novas tecnologias. Mas isso não é
tudo.
Se estes
objetos podem ser reconhecidos como ferramentas de acessibilidade, ainda são
encontradas barreiras na utilização – que muitas vezes derivam de
características do próprio aparelho, como letras pequenas e idiomas
estrangeiros.
Para a
pesquisadora, um dos maiores fatores que implica na rejeição da tecnologia é o
fato de a interação não ter sido realizada mais precocemente. “As tecnologias
surgiram na vida dos idosos de hoje quando estes já eram adultos ou até mesmo
velhos, e isto influencia no enfrentamento das dificuldades destes dispositivos em seu cotidiano”, explica
Taiuani.
Quem tem
medo da tecnologia?
Um fator
que chamou a atenção no estudo é que os idosos, em sua maioria, demonstram medo
ou receio em relação aos aparelhos tecnológicos. Do total dos entrevistados,
24% relataram ter medo de utilizar as novas tecnologias, e 40% relataram ter
receio de danificar o aparelho.
Os que
responderam ter medo afirmaram que o sentem principalmente quando usam a
internet. Além disso, é comum o medo de vírus e redes sociais, de estragar e/ou
quebrar o aparelho, de não saber utilizar, de errar e das consequências do
suposto erro. Medo de errar a voltagem, de apagar documentos de outras pessoas
que estão no computador, de não aprender a utilizar, de não memorizar as
funções e de não conseguir utilizar o aparelho também foram mencionados. Alguns
relataram ainda ter medo devido a más experiências com tecnologias.
Os
resultados da pesquisa mostraram que, apesar das dificuldades encontradas, os
membros do grupo avaliado relataram que superaram o medo após frequentarem
cursos de inclusão digital. Muitos idosos têm curiosidade de conhecer os
avanços tecnológicos e vontade de aprender. “Eles apresentam medo e resistência
ao novo, mas também pude notar que se sentem motivados e interessados em
aprender a se tornarem independentes em tarefas associadas à tecnologia”,
comenta Taiuani.
Inclusão
A terapeuta chama a atenção para a necessidade de mais iniciativas
voltadas à inclusão digital que visem desmistificar os aparelhos tecnológicos
para todos os interessados e não só para uma classe privilegiada. Ela cita um
projeto desenvolvido na FMRP pelo curso de Terapia Ocupacional em conjunto com
o curso de Informática Biomédica, e que tem o objetivo de instrumentalizar
idosos para utilizarem tecnologias do cotidiano. Isto inclui desde celulares,
controle remotos, câmeras digitais, computadores e aparelhos de cozinha até
equipamentos de monitoramento das condições de saúde.
Para
Taiuani, é preciso que pesquisadores e a população como um todo se
conscientizem da importância dos idosos lidarem com as tecnologias e de se
tornarem independentes em suas atividades com tais dispositivos, garantindo a
estes sujeitos autoconfiança e uma melhor qualidade de vida.
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